Começo esta carta sobre os 30 anos das PJs falando de um sentimento que vivenciei a poucos meses. No mês de maio estive na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), por motivos acadêmicos. Depois de findados os compromissos, fui caminhar pelo campus da universidade para encontrar o local onde, no ano de 2002, foi celebrado o 4º Encontrão das PJs do RS, que reuniu mais de 50.000 jovens. Ao reencontrar o local vivenciei um sentimento misto de nostalgia e alegria ao recordar daquele belíssimo encontro, com um sentimento de inquietação ao me perguntar “Será que viveremos outros momentos iguais àquele?” Quem sabe...
Assim como este momento foi marcante, posso dizer que a pastoral deixa marcas profundas nas pessoas que participam dos seus processos. Posso afirmar que muitas das opções, convicções e o que eu penso a respeito da vida, foram construídas e marcadas pelo processo que fiz nas Pastorais da Juventude.
Esta caminhada começou no ano de 1997, quando passei a animar grupos de jovens da PJE e depois, a partir de 2001, passei a ser assessor de grupos. Desde então, estive em instâncias regionais e nacionais da pastoral. A partir da PJE tive contato com as demais Pastorais da Juventude (PJ, PJMP e PJR), primeiro no Rio Grande do Sul, depois no Brasil. Nas PJs do RS, o período em que estive mais presente foi de 2004 a 2006, participando da Equipe Colegiada de Assessores das PJs do RS.
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Reunião Ampliada das PJs do RS, IPJ-POA, 2006. |
A minha atuação junto às PJs me levou a trilhar muitos caminhos e fazer uma opção de vida para com a juventude. Atualmente, minhas opções acadêmicas e práticas estão, em sua maior parte, envolvidas em torno das questões juvenis. Devido às várias experiências que tive, foi possível conhecer inúmeros outros grupos e propostas de trabalho com os jovens. Quando encontramos com o diferente temos a oportunidade de pensar sobre nós mesmos e refletir sobre a identidade que nos caracteriza. Por isso, quero nesta carta enumerar algumas características que são fundamentais para a identidade dos grupos das Pastorais da Juventude, não só do Rio Grande do Sul, mas do Brasil inteiro.
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Reunião da CRPJE-RS, 2006. |
Acredito que uma das principais características da formação juvenil das PJs é a sua proposta de Formação Integral (personalização, integração, sócio-política, espiritual e capacitação técnica). Esta concepção procura trabalhar todas as dimensões da vida do jovem, não apenas parte do seu ser.
Outra opção importante da proposta pedagógica das pastorais é o protagonismo juvenil. Ainda hoje, muitos dos trabalhos com jovens, desde os grupos de base, as escolas, as Políticas Públicas para Juventude, etc. são realizadas “para” os jovens, ou seja, eles não são sujeitos do processo. E isso, é valorizado e priorizado nas pastorais.
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Delegados da PJE na 15ª ANPJB, Brasília, 2008. |
Podemos destacar a formação de lideranças. Os jovens que passam por um bom processo de pastoral, geralmente, se tornam lideranças muito efetivas em diversos espaços, seja nas comunidades eclesiais, seja em outros espaços sociais. É só olharmos a quantidade de lideranças das pastorais que estão envolvidas nas conferências municipais, estaduais e nacionais de juventude. Também podemos lembrar que a primeira secretária nacional de juventude, eleita democraticamente pelos membros do CONJUVE (Conselho Nacional de Juventude) do Governo Federal, era da pastoral (Elen Marques Dantas, de Manaus).
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Curso de Assessores da PJE, 2011. |
Nas pastorais a questão de gênero é um dos temas importantes, que é levado a sério, tanto nas relações interpessoais como na linguagem utilizada. A poucos dias participei de um seminário sobre juventude, onde foram apresentadas várias realidades juvenis, inclusive de vários países da América Latina e me chamou a atenção como ainda é necessário avançar nesta discussão e nas práticas de transformação.
Outra característica importante é a que as pastorais defendem um projeto popular de sociedade, que seja politicamente democrático, economicamente justo, socialmente equitativo e solidário, culturalmente plural e ambientalmente sustentável. Ou seja, as pastorais têm consciência de que é preciso uma atuação transformadora da sociedade, e, por isso se empenham nesta missão.
As pastorais também comungam de uma proposta de ser Igreja, que é da participação e de comunhão, que tem uma opção preferencial pelos pobres, procurando assumir com coerência a proposta de Jesus Cristo, Libertador, na missão da construção da Civilização do Amor, da Terra Sem Males, do Outro Mundo Possível.
Estas e outras inúmeras características da proposta pedagógica das PJs têm proporcionado ao longo destes 30 anos experiências de transformação de vidas e de realidades de muitos jovens e assessores por todo o estado do Rio Grande do Sul.
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Equipe Nacional da PJE, 2010. |
No entanto, para que esta proposta continue sendo geradora de vida e cativando mais jovens para o seu processo é preciso que esteja aberta para as mudanças que o tempo atual nos provoca. É preciso considerar as novas realidades juvenis, os desafios relacionados às novas tecnologias, as novas relações com o tempo, a necessidade de renovação das metodologias de trabalho com grupo, etc.
Por fim, além de olhar para trás e ver quantas alegrias as Pastorais da Juventude do RS proporcionaram a tantos jovens nestes últimos anos, quero lançar o olhar para o horizonte para poder ver o caminho à frente. As PJs do RS só continuarão a existir se elas estiverem juntas, articuladas, em comunhão para poder continuar fazendo história. E, para que isso aconteça, na minha visão, terão que retomar com coragem uma das opções fundamentais da identidade pastoral que é a ORGANIZAÇÃO. A organização acontece através de estruturas organizativas e de projetos de ação realizados em conjunto. É só olharmos o redimensionamento que a “Campanha contra a Violência e o Extermínio de Jovens” proporcionou para as PJs nestes últimos dois anos. Isso é tarefa de todos os que acreditam nesta proposta...
Parabéns a todos os que fizeram parte desta linda caminhada e para os que ainda, nela, continuam.
Um abraço fraterno,
Maurício Perondi
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3º Congresso Latino-Americano de Jovens, Venezuela, 2010. |